Bem-vindos a Barcelona! (cuidado com as mãos leves)

Bem-vindos a Barcelona! (cuidado com as mãos leves)

Viajar é bom né? Conhecer gente nova, lugares inusitados, comidas super diferentes, relaxaaaar!!! Ahhh relaxar..Mas e se sua viagem se tornar uma grande e dolorida dor de cabeça? Como? A gente conta agora!!

Bom, como já contamos em posts anteriores, fizemos o Caminho de Santiago, buscando entre outras coisas uma espiritualidade e conseguimos! Mas resolvemos dar uma esticadinha até Barcelona para fechar nossa viagem com chave de ouro. Três diazinhos curando nosso cansaço depois dos 800km de caminhada. Sobre nossa estadia lá, vamos contando em outras oportunidades, hoje vamos focar nos momentos de tensão que passamos.

Era nosso ultimo dia na capital catalã, nosso vôo para Dublin era somente às 16h, então pensamos “durante a manhã podemos dar uma enrolada e ir para o aeroporto depois do almoço”. Ok! Para contextualizar, nos hospedamos em um hostel (Barcelona Urbany Hostel) que fica há uns 10min de caminhada até Las Ramblas, é pertinho. Tivemos alguns empasses lá também, a recepcionista era muito estúpida e como havia muita gente na cidade, não faziam questão de um atendimento muito bom. Ah, fomos no verão, a cidade estava abarrotada de turistas.

Voltando, nosso ultimo dia, a recepção lotada de gente fazendo check-out ou esperando para o check-in e nós com tudo pronto para partir. Mais um parêntesis, por causa do Caminho de Santiago, nos habituamos a colocar dinheiro, passaporte, tickets, cartões, documentos, tudo em uma pochete que não desgrudávamos. E justamente nesse bendito dia, o Leonardo desceu para a recepção com a mochila, a pochete e a câmera enquanto eu descia com minha bolsa de viagem um saquinho de lixo para a cozinha. Coisa de 3 minutos entre eu ir até a cozinha e voltar para encontrá-lo na recepção. Os 3 minutos mais longos do mundo.

Quando voltei na recepção só ouvi o Leonardo, com uma cara de assustado, me falando “Tá com você?” e eu estranhando “Comigo? Comigo o que?”. Meu coração acelerou, e ele me disse enlouquecido “A pochete!”. Minha reação foi não acreditar, foi achar que ele tava me zuando, sei lá. E ele me explicou que estava esperando a muvuca passar um pouco no balcão e ficou perto de um banco (nem 1m de distância do balcão) com as nossas coisas, mas ele foi um pouco para frente para ver se era só check-out mesmo e quando voltou a olhar para nossas coisas viu uma mulher e um menino saindo daquela direção.

Como eu disse, foi uma questão de 3 minutos. Na confusão de gente na recepção essa mulher e o menino entraram e saíram com nossa pochete sem ninguém perceber. O Leonardo achou estranho o movimento e correu para ver se nossas coisas estavam lá e em seguida eu cheguei e aquele nosso diálogo começou. O tempo que demoramos para conferir se era mesmo a nossa bolsinha que tinha sido furtada, foi o tempo necessário para que a mulher desaparecesse. E nosso desespero começou!

Estávamos sem dinheiro, passaporte ou qualquer documento. E ainda outra coisa, dentro da pochete também estava nosso tablet com todas as fotos dos 3 dias que passamos na França antes de seguir a caminhada e as fotos das duas primeiras semanas do caminho. Estávamos desolados em um país estranho. O Leonardo saiu correndo pra tentar achar a maldita mulher e eu caí no desespero no hostel. Vários brasileiros que estavam na recepção vieram pelo menos prestar solidariedade, já a recepcionista…ahh ela fingiu que nem era com ela, mas enfim!

O Leonardo voltou, sem nada claro e nós tentamos nos acalmar para ver o que deveríamos fazer. Primeiro tivemos que ir até um posto policial e prestar queixa, em espanhol..ou melhor..catalão! Maravilha!!! Os policiais até que nos atenderam bem, na verdade a única coisa que procurávamos lá era um Boletim de Ocorrência para poder ir ao consulado, pois nós precisávamos sair do país. Ahhh isso tudo aconteceu às 10h da manhã e nosso voo era às 16h.

Ainda na delegacia, tentamos nos informar como chegar ao consulado. Mais um parêntesis – Brasileiros, português não é espanhol..portunhol não é espanhol, os espanhóis não vão entender se você tentar enrolar, então sem vergonha alheia, façam mímica mas não tentem enrolar achando que está arrasando. Meu espanhol é horrível, mas entendo até que bem e arrisco algumas coisas se for extremamente necessário. Na delegacia não tivemos muitas dificuldades, mas os policiais não entendiam algumas coisas que falávamos, logo..demoramos um pouco para terminar o BO. Saímos de lá às 11h, antes disso o policial ligou no consulado e nos informou que fechava às 12h (uhuuul). O policial ainda muito prestativo nos explicou como chegar lá, mas ele disse que era um pouco longe e precisaríamos pegar o metrô senão não daria tempo. Tínhamos 20 euros no bolso, que recebemos o depósito do hostel, e só! A passagem do metrô custava por volta de 2 euros cada. Fazer o que né!

Essa é a lembrança que temos da nossa saudosa pochete.. :(

Essa é a lembrança que temos da nossa saudosa pochete.. 🙁

Seguimos de metrô até a estação que ele nos disse e surpresaaaaa… ele mandou a gente longe pra car@!*@!. Exemplificando, o consulado ficava na Rua Fulana numero 4000. Paramos na estação Rua Fulana mas no numero 1000. E lá não é como no Brasil que pula do numero 587 para o 730, nããão..lá segue a numeração certinha. E só faltava 40 minutos para o consulado fechar. Não tínhamos como ficar ali nem mais um dia, sem dinheiro ou documentos, precisávamos partir. Eu, a cada 10 passos que dava caia no choro, inconsolável! E o nosso desespero só aumentava. Quando vimos que do jeito que tava não chegaríamos a tempo, decidimos que eu ficaria com nossas coisas e ia andando devagar e o Leonardo ia correndo para segurar o atendimento. Eu fiquei e ele saiu correndo desesperado. Chorando, me arrastando cheguei lá 20 minutos depois dele ao meio dia em ponto.

Ufa, conseguimos! Não tão rápido senhorita! Fomos atendidos e tenho que dizer, o pessoal lá é inesquecível. Quando contamos o caso, e contamos que nosso voo sairía em 4 horas, fomos mandados para o cônsul. Ele explicou que como não voltaríamos para o Brasil, precisaríamos de um passaporte para entrar em Dublin novamente, se viéssemos para cá ele poderia emitir uma espécie de declaração gratuita. O passaporte de emergência custa 160 EUROS cada! Mais um assalto né! Sem dinheiro, sem cartão de crédito, sem acesso à conta, sem nada como iríamos fazer? Ahhh daí que existem os amigos né! Consegui falar com um casal de amigos nossos (Iara e Eberson *-*) para que eles nos emprestassem o dinheiro e transferissem direto para a conta do cônsul, só assim nosso passaporte poderia ser emitido. Claro até a gente se acalmar, até conseguir falar com eles, passou um tempão. Enquanto isso o cônsul explicando que isso acontece todo dia em Barcelona. Que muita gente é furtado e precisa recorrer ao consulado, inclusive enquanto estávamos sendo atendidos chegou outro brasileiro. Roubaram o passaporte dele dentro do quarto do hostel. Legal né!

Nossos passaportes demoraram por volta de 1h e meia para ficarem prontos. Pior foi o momento que a mocinha do consulado disse “Agora vamos tirar uma foto” e eu “O que? Nem pensar! Pega a que tinha” ela riu né.. e eu tive que tirar a foto, pareço que fui fichada de tão meliante e acabada que estou. Horrendoooo! Agora, passaportes na mão, já era 15h e tinhamos 1h para estar na fila do embarque. Como? Tínhamos 16 euros e com sorte conseguiríamos pegar um ônibus direto para o aeroporto que custava 10 euros e demorava 40 minutos. Mais um desespero! Os atendentes do consulado ficaram muito sensibilizados, muito mesmo. Eles (eram 3) fizeram uma vaquinha lá nas moedinhas que tinham e nos deram mais um pouquinho, não lembro, acho que uns 6 euros. Gente, não é muito, mas a gente estava numa situação tamanha que nós dois choramos quando eles fizeram isso. Como é bom ter a caridade e compaixão do próximo. A menina mais simpática falava assim “Parem de chorar, chorem dentro do avião que nós vamos sentir que valeu a pena”.

Respiramos fundo e demos o primeiro passo, mas a menina do consulado mais uma vez veio interceder. “Vocês não vão chegar no ponto de ônibus a tempo se forem a pé, vou com vocês até o metrô e vou fazer vocês entrarem de graça”. E lá foi ela, nos acompanhou, conversou com o guardinha, mostrou nosso B.O. e ele liberou. Me fala, como não chorar?! Chegamos na praça Cataluña e vimos que faltava 30 minutos e de ônibus íamos perder o avião. Com todo meu espanhol e cara de pau, fui até um taxista e perguntei quanto era dalí até o aeroporto e ele nos disse que daria uns 28 Euros, nós tínhamos 25 eu acho. Mas precisávamos ainda comer algo! Eu expliquei que havíamos sido roubados e toda a novela, e se ele não poderia fazer a caridade de nos levar por 20 euros. Ele resmungou um pouco mas acabou aceitando. Chegamos no aeroporto às 15:55! Daí nós não seguramos, choramos..eu soluçava..de desespero, alegria, cansaço…E o Leonardo, ai que dor me dava de olhar pra ele tão tristinho.

Ainda estávamos preocupados por estarmos sem nossos vistos de estudantes de Dublin, rezando para não dar zica na imigração de lá também. Mas graças a Deus foi muito tranquilo… E eu nunca senti tanto afeto por Dublin como senti naquele dia, como se eu estivesse no meu país de verdade. Além disso fomos recebidos pelas nossas queridas amigas Erika, Aline, Lari, Angel e Ju com todo carinho!

Bom, acho que até me prolonguei demais nesse post, mas não tinha como falar menos para tentar passar um pouco do que sentimos naquele dia. Mas uma lição que ficou, muito mais que devemos ter cuidado redobrado, foi da compaixão que as pessoas ainda tem no coração… Pessoal do consulado, Iara, Eberson, Erika, Aline, Lari, Angel e Ju..um agradecimento imenso a vocês!

Fatalidades acontecem, mas tendo fé a gente vence e supera qualquer coisa!