Nos últimos anos, a procura pela experiência “abroad” só cresce no Brasil. Cada dia mais e mais vemos amigos, conhecidos, conhecidos dos conhecidos, procurando aprender um novo idioma em outro país: o tão desejado intercâmbio. No entanto, nem só de experiências lindas vive o intercambista e algumas vezes, a experiência pode não ter o resultado que você tanto esperava. Confuso? Sim! Mas nesse post vou tentar explicar e contar um pouca da nossa experiência.
Muitas vezes achamos que bastará morar fora alguns meses que o novo idioma será totalmente absorvido pela nossa mente. Até pode ser verdade para alguns, mas idioma é prática e nem sempre essa prática é fácil. Afinal estamos dando um salto da nossa zona de conforto para o desconhecido. Por isso, a sua meta pessoal é extremamente importante! Ter claro o resultado que você espera ter ao final do intercâmbio e lembrar desse objetivo sempre que o coração fraquejar serão determinantes para o sucesso da missão.
Nossa história começa em 2012, quando fomos para Irlanda para fazer o tão desejado curso de inglês. O Leonardo, aos 29 anos, se programou financeiramente durante um ano, saiu do trabalho e foi para Dublin, sem muitos planos além do inglês. Ele foi uma boa folga de grana e gastou um pouco mais pela segurança de ter o respaldo de uma agência. Eu me juntei a ele 4 meses depois, na época com 25 anos, mas economizei um pouco mais por escolher escola por conta própria e não ter o peso da despesa de moradia logo de cara. Nessa época, Dublin era o point do intercâmbio para brasileiros (acredito que ainda seja um dos), ou seja, tinha gente falando em português para todos os lados. Conhecemos muitos brasileiros, não saiamos muito e moravamos juntos. Resumindo, grande parte do tempo não praticavamos inglês.
Meses depois voltamos para o Brasil, mas o nível de inglês não estava tão bom como imaginávamos que estaria. É, um idioma não se aprende magicamente, é necessário praticar e muito. Refletimos bastante sobre as coisas que faríamos diferente. Coisas bem óbvias, como se misturar com gente de outros países, se forçar a ir à conversações, ir ao mercado sem medo, falar e falar. Sair da zona de conforto!
O tempo passou, muita coisa aconteceu até que nos mudamos para Barcelona no ano passado. Já aqui, resolvemos visitar Dublin – quantas lembranças! Em uma bela noite fria de dezembro, nos sentamos perto de um grupo de intercambistas no restaurante, todos brasileiros, conversando sobre o nível de inglês e como pode ser difícil aprender, um déjà vu!
É super compreensível esse apego que temos quando encontramos lá fora, pessoas que tem pelo menos o idioma em comum com a gente. Que entende nossas piadas, gírias e sentem a mesma saudade do feijão que nós sentimos. É como se você não precisasse estar com a guarda alta a cada segundo, com medo de perder uma palavra ou não ser entendido corretamente por falta de vocabulário. Porém esse medo é a batalha que temos que lutar para alcançar o nosso grande objetivos, a fluência em um idioma.
Voltando à nossa trajetória, no Brasil, eu estudei por um tempo inglês e depois me dediquei ao espanhol, uma necessidade profissional. Quando comecei o espanhol, tive longas conversas comigo mesma, me convencendo que não teria medo de falar, mesmo que errado, e tentaria praticar o máximo que pudesse.
No trabalho, travei incontáveis vezes, mas com meu professor eu até inventava palavras, me sentia segura. Depois de 6 meses fiz minha primeira entrevista em espanhol. Lembro da sensação, era como eu me jogar de um penhasco e a queda durar 1 hora. Porém, quando finalmente fui chamada para trabalhar na Espanha, eu explodia por dentro de tanta satisfação.
Meses depois, tentando ganhar fluência no espanhol, voltei ao meu velho dilema: o Inglês. Agora, aos 30, decidi passar 3 semanas em Praga fazendo um curso intensivo. Por duas semanas eu tive um casal de amigos brasileiros lá. Passeamos muito juntos, mas consegui encontrar o equilíbrio de bate-papo no hostel (não todos os dias, até porque socializar não é tão fácil para todo mundo). Fui o tipo de “coleguinha chato” da escola, que quer responder todas as questões. Tentei conversar com meus colegas o máximo que pude. Fiz tours guiados em inglês, até uma aula de yoga eu encarei. Enfim, peguei todos os “arrependimentos” do intercâmbio de Dublin e reverti em lições aprendidas.
Três semanas mudaram minha fluência? Não! Mudaram minha confiança. Eu falo sempre que dá, muitas vezes com um delay entre o que deveria ser o certo que o que minha boca acabou de dizer, mas ok! Idioma é prática, quanto mais praticar, mais você vai ganhar confiança e falar vai ser algo natural. E não, você não precisa evitar todo tipo de contato com brasileiros, mas precisa (mais uma vez) ter claro os seus objetivos e “meter o louco”.
O desafio de um bom intercâmbio é buscar o equilíbrio entre o abraço de um bate-papo gostoso em português e o desafio de conseguir juntar o primeiro grupo de palavras e formar uma sentença completa.
Tudo é questão de equilíbrio!