O caminho sempre foi um sonho de minha noiva e em 2012 a nossa ida para a Irlanda foi um motivador para ela me contar mais sobre essa peregrinação, tanto que em 2013 entre fazer uma «big trip» pela Europa ou fazer o caminho, optamos pelo caminho. Na verdade encaixamos o caminho entre nossa viagem pela França e Espanha (um erro!!).
Terminada a peregrinação e fazendo um comparativo entre o que planejamos, o que realmente aconteceu e também o que aprendemos durante os 28 dias de caminhada chegamos a essas dicas para compartilhar com vocês e quem sabe ajuda-los e inspirá-los.
Durante os meses que antecederam o início de nossa jornada confesso que subestimei um pouco o caminho. Pela falta de experiência acabamos por não ter parâmetros para nosso planejamento. Erramos nas nossas compras, nos nossos planejamentos, metas e no financeiro também.
Três meses antes de começar o caminho começamos a estudar sobre trilhas, conhecer o equipamento que normalmente se utiliza e documentos necessários. Mais um erro: Não nos importamos em comprar um guia completo que falasse sobre todas as possíveis rotas.
Começamos escolhendo as mochilas e botas. Compramos uma bota boa, bastante leve, porém mais tarde iríamos descobrir que não era muito confortável, o solado era muito fino e dava pra sentir as «pedras do caminho» literalmente e não são poucas… e também não eram duráveis. 800Km é um grande teste de resistência, com 300Km a minha bota começou a rasgar e acabou chegando só o bagaço, quase acabei descalço no meio do caminho. Uma dica importante que aprendemos, qualidade acima de tudo, escolha uma bota que tenha qualidade mesmo sendo um pouco mais cara.
Escrever sobre calçados me fez lembrar de um mineiro que conhecemos durante o caminho, ele já havia percorrido 2000Km e já tinha furado a sola de duas botas. Ele havia começado sua jornada no Vaticano e estava fazendo dois caminhos, o Caminho da Paz e o Caminho do Amor) Imagina se ele não tivesse escolhido um calçado de qualidade?
Bom outro item que adquirimos e também aprendemos da pior maneira foram as bag’s. Eu, muito descolado tinha a minha, uma mochila cargueira de 90L (75+15). A mochila é muito boa, confortável e resistente porém não era uma mochila para fazer o caminho, muito grande. Para minha noiva compramos uma mochila de 40L, eu acho ideal, se conseguir colocar suas coisas em uma menor, melhor ainda porém quanto menor menos almofadada será sua mochila.
Desta vez quem dançou foi eu, novamente. Minha mochila é de 75L a 90L, então fui achando que dava pra carregar e fui colocando coisas, quando vimos estava com a mochila cheia. Depois de uns 100Km e de despachar dois pacotes para Santiago conseguimos achar o peso ideal para fazer o caminho. Por incrível que pareça estávamos com 5Kg a mais em cada mochila. Esse pequeno descuido custou a nós uma dor infernal nas costas, diversas bolhas nos meus pés e um desgaste imenso nos primeiros dias, tanto que deixou minha noiva doente.
Acho que a dica mais importante:
- Carregue na mochila no máximo 10% do seu peso. Faça suas coisas caberem nessa marca. O caminho é lindo de mais para passar grande parte sofrendo, lembre-se de sempre estar vendo o que não está sendo utilizado e se possível despache pelo correios.
O Correios lá não é como no Brasil, que em toda esquina tem um. O primeiro Correios está há 3 dias em Pamplona. Existe uma encomenda própria para peregrinos e fica um bom tempo em Santiago de Compostela, custo benefício ótimo.
Bom, voltando aos equipamentos, esses dois são os mais importantes e fundamentais, botas e mochila. Um bom guia é para aqueles que gostam de conhecer por onde estão andando, o que tem nas cidades, lista de hotéis e albergues completa, possíveis caminhos, sim, dentro do caminho Francês é possível pegar várias rotas. Para aqueles que querem descobrir o caminho durante o caminho, um simples guia como o nosso basta, apenas para saber o ritmo, distância de uma cidade para outra e o nome dos albergues.
Em seguida vou listar o que acho necessário: Kit primeiro socorros com alguns remédios, uma papete, de preferência de boa qualidade e que já tenha utilizado, o caminho não é um bom lugar para experimentar. Duas mudas de roupas, de preferência para roupas multi uso, estilo calça bermuda, casaco corta-vento a prova d’agua, poncho ao invés de capa de chuva, a não ser que sua mochila caiba sob a capa. O importante é saber bem sobre a época do ano que irá fazer o caminho, chuva com frio é uma roupa, chuva com calor é outra e dependendo pode aumentar o peso da sua bag.
No mais é uma toalha, saco de dormir, que também depende da época, produtos de higiene pessoal, meias, etc. Claro uma câmera para registrar os momentos, como eu gosto de fotografar não vou dar palpite de peso. Vale a pena um peso a mais para fazer uma foto inesquecível.
O que o peregrino deve ter em mente é que não se trata de um passeio e sim de uma peregrinação onde devemos praticar o desapego. Você pode começar o caminho com 20kg nas costas, como nós, mas irá aprender que o caminho é feito com simplicidade e desapego.
Durante os meses que precediam o caminho lemos muitos posts sobre o que levar e como nos preparar, e o que podemos contribuir para outras pessoas é que todos nós temos nossos limites o caminho é longo e puxado o que puder economizar em peso será ótimo. Utilizamos um cajado que ajuda bastante mas as vezes pode ser um peso a mais para carregar. Tínhamos travesseiros infláveis, porem nunca utilizamos, acredito que esteira isolante, lençóis e artigos de cama sejam dispensáveis.
Por falar em dormir, um outro ponto que erramos foi as contas com hospedagem e comida. Primeiro, onde ficar? A escolha de onde ficar vai depender de alguns fatores: Os albergues de peregrinos são os mais baratos, portanto os mais procurados. Os privados tem seu preço variado de 10€ a 50€, uma dica é que dependendo da época o caminho pode se tornar uma corrida por uma vaga, algo bem desagradável, portanto, tenha uma reserva para ficar em albergues privados. Os albergues de donativos também são uma opção, porém não tem em todas as cidades.
Nós ficamos em todos os tipos e com certeza os melhores foram os de donativos. Exatamente, são magníficos, simples, aconchegantes e muito divertidos. Um grande abraço a todos hospitaleiras que dedicam uma parte de seus dias servindo os peregrinos. A doação é quanto você acha que merece e com certeza eles valem muito mais que muitos albergues privados. Enfim reserve um tempo para planejar suas estadias.
Outro ponto é sobre as refeições: Menu do Peregrino é um prato que irá ser encontrado facilmente e que dá o sustento necessário para a caminhada porém chega um ponto que começa a ser enjoativo todo dia comer a mesma coisa! Durante um bom tempo optamos por fazer a nossa comida. Não é muito fácil pois nem todos os albergues tem cozinha, alguns tem cozinha mas não tem os utensílios e a grande maioria tem um restaurante na frente. Outro ponto é a comida, o caminho passa por cidades muito pequenas que não tem um mercado e as vezes quando tem é super caro. Nós fazíamos uma compra que durava no máximo dois dias com alimentação básica, massas, feijão e lentilha enlatada, atum, arroz… acho que só. Depois de um tempo já tínhamos uma repartição em nossa mochila, nossa pequena mercearia ambulante. Como éramos dois, fazer comida era muito divertido, econômico e de certa forma melhor. Tomávamos vinho e cozinhávamos. Dica muito importante: Os vinhos são magníficos e muito barato. Como dizem: «O caminho é feito com pão e vinho». Falando em pão sempre comprávamos pão e mortadela para o café da manhã e caso para o caso da fome aparecer pelo caminho.
Como disse anteriormente, cada um faz suas escolhas e faz o seu caminho. Gostaria apenas de dar algumas dicas, pois ao final da sua jornada será o fim de sua história, com seus acertos e talvez alguns erros pelo Caminho de Santiago.
— Buen Camino peregrino!