Comecemos pelo fato de apesar de o Caminho Francês receber o maior número de peregrinos a cada ano, esta não é a única rota a percorrer o Caminho de Santiago. Na verdade, o dito Caminho Primitivo é a considerado como a rota mais antiga, quando, no século IX o rei Afonso ll, de Asturias, fez sua peregrinação ao ser informado que ali estava a tumba de Santiago.

Esta rota, tradicionalmente, começa na catedral de Oviedo, a Catedral de San Salvador, seguindo por trilhas pelas montanhas asturianas até chegar à Galícia, onde em Melide os caminhos Primitivo e Francês se encontram. Historicamente essa rota é tão importante que existe um ditado em que diz:

«Quien va a Santiago y no al Salvador visita al criado y no al Señor» – Quem vai à Santiago e não ao Salvador, visita o criado e não ao Senhor.

 

Sobre a rota e preparação

São mais ou menos 310 km, normalmente divididos em 14 etapas, com desníveis um tanto pesados, mesmo para quem está habituado a trilhas ou longas caminhadas. Mas o pior ponto, particularmente, são os longos trechos sem bares, restaurantes ou albergues, somente natureza. 

Isso significa que se acontecer qualquer contratempo, você provavelmente precisará seguir andando por mais um tanto razoável. Por isso, levar um guia com as informações atualizadas, é importante. Além de estar consciênte dos riscos de cada etapa. Prepare-se para, no mínimo, seguir as etapas definidas no guia.

Procure sempre um bom guia, que possua o perfil de desníveis de cada etapa. Por exemplo, em relação a subidas, a mais intensa é a de Pola de Allande até Puerto del Palo, pouco mais de 650 m desnível. É importante se programar para tentar equilibrar um pouco o esforço físico de cada dia.

Sobre a preparação, não posso dizer que me preparei intensamente, não o fiz. Mas eu tive a vantagem de já ter feito o Caminho Francês e algumas outras tantas trilhas longas. Ou seja, já tinha uma ideia de como seria o ritmo. Para quem nunca fez trilha e não está acostumado a andar muito, para uma primeira vez, eu diria para ou escolher outra rota, mesmo o Caminho Frances e então fazer o Primitivo ou preparar bem o físico. Temos que lembrar que não é só andar, é andar carregando uma mochila de pelo menos 8 kg, subindo e descendo montanhas por longos trechos.

 

 

Vale ressaltar que fazer o Caminho de Santiago não significa caminhar 1 mês, ou ter que escolher a rota do Frances. Você pode escolher outra, fazer apenas parte de uma, ou até mesmo combinar duas rotas. Não se deixe levar pelo marketing, explore suas opções.

Melhor época

Diferente de 9 anos atrás, quando fizemos o Frances, hoje exite uma infinidade de informações sobre as melhores estações e o que você poderá esperar. Definitivamente, o verão pode ser a pior delas. Alguns defendem que o inverno, apesar do frio até é uma boa época por ser não chover tanto. Eu ainda fico com a primavera ou o outono.

Mas é preciso ser precavido. Esta rota não tem, nem de perto a mesma facilidade de se encontrar albergues como o Francês, nem tanta procura. Por isso é necessário se informar sobre até quando determinado albergue estará aberto antes de planejar a época.

Mochila

Sempre vai depender da época do ano, mas vamos considerar aqui o começo do outono, que foi a que escolhi. Tenha em mente que Astúrias é uma região de montanha, faz mais frio e as roupas não secam com tanta facilidade. Já chegando na Galícia, chuva não é algo incomum.

Priorize peças que sequem com alguma facilidade. Na sequência, deixo a lista básica de itens da mochila que levei. Tive 100% de aproveitamento e a mochila tinha o peso adequado. Não adicione nada pensando no «vai que». Não, você não vai precisar.

  • 1 segunda pele
  • 3 camisetas
  • 1 camiseta manga longa de proteção solar
  • 1 boné
  • 2 calças
  • 1 short
  • 2 pares de meias para trekking e 1 normal de reserva
  • 1 casaco fino
  • 1 capa de chuva
  • 1 lenço
  • 1 saco de dormir
  • 1 par de botas de trekking
  • 1 par de sandálias de trekking
  • 1 garrafa de água de 1L (importante priorizar a água, as distâncias são longas)
  • 1 toalha esportiva
  • 1 lanterna
  • 1 kit de primeiros socorros
  • 1 powerbank
  • óculos de sol
  • produtos de higiene pessoal

 

 

Albergues, alimentação, custos e Covid 

Espero que este tópico seja datado e que em breve nem faça mais sentido, mas seja qual for a rota, muitos albergues e bares acabaram também sofrendo com a pandemia. Devido às limitações e cuidados sanitários, muitos dos privados começaram a aceitar reservas, o que facilita muito a vida dos peregrinos, pois não precisamos correr como loucos para poder conseguir uma cama. 

Os albergues seguem as normas de segurança sanitárias vigentes na comunidade autônoma e os peregrinos, com responsabilidade, devem seguir as normas também. 

Em setembro, quando fui, na grande maioria das vezes bastou uma ligação para reservar uma vaga. E sim, são reservas de camas em quartos compartilhados. Em alguns pueblos existem hotéis, ou pensões, mas não são em todos.

Uma outra implicação da pandemia, que pode afetar o bolso é a disponibilidade de cozinhas nos albergues. Muitos, por precaução, ainda mantém as cozinhas comunitárias fechadas. Assim, os peregrinos acabam precisando comer em restaurantes, o que pode sair um pouco mais caro.

Voltando ao assunto de chuva, umidade e lavar roupa, é bastante comum que os albergues tenham lavadora e secadora. Se você decidir compartilhar a máquina com outros peregrinos, pode sair bem mais em conta. Vale a pena principalmente pela secadora.

Além disso, é importante lembrar que Astúrias e Galícia são regiões conhecidas por uma cozinha basada em produtos de origem animal e o caminho passa por pueblos muito pequenos, sem um leque gigante de opções, como em cidades maiores. Se você tiver algum tipo de restrição alimentar, pode ser um desafio manter-se como de costume nos dias que estiver percorrendo o Caminho Primitivo.

Sobre os custos, em média, a cama nos albergues privados custam entre 10-20€. Uma refeição como a do menu do peregrino (entrada, primeiro, segundo, sobremesa e uma bebida) custa por volta de 12-15€.

Uma facilidade que o peregrino pode contratar é o de transporte de mochilas. Por eu não ter nenhum limitações físicas, não é o tipo de serviço que me atrai, mas é um serviço bastante comum. As empresas vão de albergue em albergue deixando a sua mochila, você só precisa saber em que albergue vai dormir no fim do dia.

 

Extras

  • Credencial do Peregrino –  não precisa pressa, pode chegar na catedral de Oviedo e comprar a sua. Aproveite para fazer o tour da catedral.
  • O aplicativo de celular Buen Camino é uma ajuda maravilhosa. Ele tem até a rota sincronizada com o GPS, para aqueles momentos em que a sinalização desaparece e você se perde. Além disso, tem a lista e contatos dos albergues. Uma mão na roda.
  • Guia – eu comprei este do link, compacto e me deu todas as informações que eu precisava.
  • Um site cheio de boas informações é o Gronze. Inclusive para quem ainda está em dúvida de qual rota seguir.
  • A rota de Borres a Berducedo pelos hospitais (subindo a montanha) é linda, mas se subir cedo demais, talvez esteja muito nublado e não dê para aproveitar a vista.
  • Para o primeiro dia, o albergue La Quintana, em Grado é uma opção excelente. Eles têm um bar/restaurante e um terraço delicioso para o fim de um primeiro dia tão intenso.
  • Já no segundo dia, em Salas, Casa Sueño é hotel e albergue. A dona é a Patrícia, uma brasileira queridíssima e eles contam com um restaurante muito bom.
  • Em Tineo, não deixe de ir a um bar chamado La Griega. É um bar simples, comida boa e os donos amam os peregrinos. O atendimento é um dos melhores que um peregrino pode pedir.

 

Neste outro post eu conto um pouco de como foi a experiência de percorrer o Caminho Primitivo sozinha.

 

 

 

 

Comecemos pelo fato de apesar de o Caminho Francês receber o maior número de peregrinos a cada ano, esta não é a única rota a percorrer o Caminho de Santiago. Na verdade, o dito Caminho Primitivo é a considerado como a rota mais antiga, quando, no século IX o rei Afonso ll, de Asturias, fez sua peregrinação ao ser informado que ali estava a tumba de Santiago.

Esta rota, tradicionalmente, começa na catedral de Oviedo, a Catedral de San Salvador, seguindo por trilhas pelas montanhas asturianas até chegar à Galícia, onde em Melide os caminhos Primitivo e Francês se encontram. Historicamente essa rota é tão importante que existe um ditado em que diz:

«Quien va a Santiago y no al Salvador visita al criado y no al Señor» – Quem vai à Santiago e não ao Salvador, visita o criado e não ao Senhor.

 

Sobre a rota e preparação

São mais ou menos 310 km, normalmente divididos em 14 etapas, com desníveis um tanto pesados, mesmo para quem está habituado a trilhas ou longas caminhadas. Mas o pior ponto, particularmente, são os longos trechos sem bares, restaurantes ou albergues, somente natureza. 

Isso significa que se acontecer qualquer contratempo, você provavelmente precisará seguir andando por mais um tanto razoável. Por isso, levar um guia com as informações atualizadas, é importante. Além de estar consciênte dos riscos de cada etapa. Prepare-se para, no mínimo, seguir as etapas definidas no guia.

Procure sempre um bom guia, que possua o perfil de desníveis de cada etapa. Por exemplo, em relação a subidas, a mais intensa é a de Pola de Allande até Puerto del Palo, pouco mais de 650 m desnível. É importante se programar para tentar equilibrar um pouco o esforço físico de cada dia.

Sobre a preparação, não posso dizer que me preparei intensamente, não o fiz. Mas eu tive a vantagem de já ter feito o Caminho Francês e algumas outras tantas trilhas longas. Ou seja, já tinha uma ideia de como seria o ritmo. Para quem nunca fez trilha e não está acostumado a andar muito, para uma primeira vez, eu diria para ou escolher outra rota, mesmo o Caminho Frances e então fazer o Primitivo ou preparar bem o físico. Temos que lembrar que não é só andar, é andar carregando uma mochila de pelo menos 8 kg, subindo e descendo montanhas por longos trechos.

 

 

Vale ressaltar que fazer o Caminho de Santiago não significa caminhar 1 mês, ou ter que escolher a rota do Frances. Você pode escolher outra, fazer apenas parte de uma, ou até mesmo combinar duas rotas. Não se deixe levar pelo marketing, explore suas opções.

Melhor época

Diferente de 9 anos atrás, quando fizemos o Frances, hoje exite uma infinidade de informações sobre as melhores estações e o que você poderá esperar. Definitivamente, o verão pode ser a pior delas. Alguns defendem que o inverno, apesar do frio até é uma boa época por ser não chover tanto. Eu ainda fico com a primavera ou o outono.

Mas é preciso ser precavido. Esta rota não tem, nem de perto a mesma facilidade de se encontrar albergues como o Francês, nem tanta procura. Por isso é necessário se informar sobre até quando determinado albergue estará aberto antes de planejar a época.

Mochila

Sempre vai depender da época do ano, mas vamos considerar aqui o começo do outono, que foi a que escolhi. Tenha em mente que Astúrias é uma região de montanha, faz mais frio e as roupas não secam com tanta facilidade. Já chegando na Galícia, chuva não é algo incomum.

Priorize peças que sequem com alguma facilidade. Na sequência, deixo a lista básica de itens da mochila que levei. Tive 100% de aproveitamento e a mochila tinha o peso adequado. Não adicione nada pensando no «vai que». Não, você não vai precisar.

  • 1 segunda pele
  • 3 camisetas
  • 1 camiseta manga longa de proteção solar
  • 1 boné
  • 2 calças
  • 1 short
  • 2 pares de meias para trekking e 1 normal de reserva
  • 1 casaco fino
  • 1 capa de chuva
  • 1 lenço
  • 1 saco de dormir
  • 1 par de botas de trekking
  • 1 par de sandálias de trekking
  • 1 garrafa de água de 1L (importante priorizar a água, as distâncias são longas)
  • 1 toalha esportiva
  • 1 lanterna
  • 1 kit de primeiros socorros
  • 1 powerbank
  • óculos de sol
  • produtos de higiene pessoal

 

 

Albergues, alimentação, custos e Covid 

Espero que este tópico seja datado e que em breve nem faça mais sentido, mas seja qual for a rota, muitos albergues e bares acabaram também sofrendo com a pandemia. Devido às limitações e cuidados sanitários, muitos dos privados começaram a aceitar reservas, o que facilita muito a vida dos peregrinos, pois não precisamos correr como loucos para poder conseguir uma cama. 

Os albergues seguem as normas de segurança sanitárias vigentes na comunidade autônoma e os peregrinos, com responsabilidade, devem seguir as normas também. 

Em setembro, quando fui, na grande maioria das vezes bastou uma ligação para reservar uma vaga. E sim, são reservas de camas em quartos compartilhados. Em alguns pueblos existem hotéis, ou pensões, mas não são em todos.

Uma outra implicação da pandemia, que pode afetar o bolso é a disponibilidade de cozinhas nos albergues. Muitos, por precaução, ainda mantém as cozinhas comunitárias fechadas. Assim, os peregrinos acabam precisando comer em restaurantes, o que pode sair um pouco mais caro.

Voltando ao assunto de chuva, umidade e lavar roupa, é bastante comum que os albergues tenham lavadora e secadora. Se você decidir compartilhar a máquina com outros peregrinos, pode sair bem mais em conta. Vale a pena principalmente pela secadora.

Além disso, é importante lembrar que Astúrias e Galícia são regiões conhecidas por uma cozinha basada em produtos de origem animal e o caminho passa por pueblos muito pequenos, sem um leque gigante de opções, como em cidades maiores. Se você tiver algum tipo de restrição alimentar, pode ser um desafio manter-se como de costume nos dias que estiver percorrendo o Caminho Primitivo.

Sobre os custos, em média, a cama nos albergues privados custam entre 10-20€. Uma refeição como a do menu do peregrino (entrada, primeiro, segundo, sobremesa e uma bebida) custa por volta de 12-15€.

Uma facilidade que o peregrino pode contratar é o de transporte de mochilas. Por eu não ter nenhum limitações físicas, não é o tipo de serviço que me atrai, mas é um serviço bastante comum. As empresas vão de albergue em albergue deixando a sua mochila, você só precisa saber em que albergue vai dormir no fim do dia.

 

Extras

  • Credencial do Peregrino –  não precisa pressa, pode chegar na catedral de Oviedo e comprar a sua. Aproveite para fazer o tour da catedral.
  • O aplicativo de celular Buen Camino é uma ajuda maravilhosa. Ele tem até a rota sincronizada com o GPS, para aqueles momentos em que a sinalização desaparece e você se perde. Além disso, tem a lista e contatos dos albergues. Uma mão na roda.
  • Guia – eu comprei este do link, compacto e me deu todas as informações que eu precisava.
  • Um site cheio de boas informações é o Gronze. Inclusive para quem ainda está em dúvida de qual rota seguir.
  • A rota de Borres a Berducedo pelos hospitais (subindo a montanha) é linda, mas se subir cedo demais, talvez esteja muito nublado e não dê para aproveitar a vista.
  • Para o primeiro dia, o albergue La Quintana, em Grado é uma opção excelente. Eles têm um bar/restaurante e um terraço delicioso para o fim de um primeiro dia tão intenso.
  • Já no segundo dia, em Salas, Casa Sueño é hotel e albergue. A dona é a Patrícia, uma brasileira queridíssima e eles contam com um restaurante muito bom.
  • Em Tineo, não deixe de ir a um bar chamado La Griega. É um bar simples, comida boa e os donos amam os peregrinos. O atendimento é um dos melhores que um peregrino pode pedir.

 

Neste outro post eu conto um pouco de como foi a experiência de percorrer o Caminho Primitivo sozinha.