Liffey - o coração de Dublin

Liffey – o coração de Dublin

Quem teve a oportunidade de morar fora provavelmente vai entender o que vou contar. Hoje o texto não é sobre alguma viagem maluca ou uma opinião sobre algum lugar, não! O post hoje é sobre sensações depois de voltar a nossa terrinha amada (e odiada às vezes), nosso Brasil, brasileiro!

Acho que foi nesse dia que aceitei Dublin - Phoenix Park

Acho que foi nesse dia que aceitei Dublin – Phoenix Park

Tudo começou com a partida do Leo para o intercâmbio na Irlanda, em 2012. Alguns meses depois foi minha vez, me mudei para Dublin com ele. Ao contrário de muita gente, eu sofri bastante com a adaptação. Horário, clima, rotina… tudo muito diferente para mim. Quem me conhece sabe, que de todos eu era a menos empolgada em estar lá. Mas pouco a pouco e sem perceber, eu estava construindo a minha rotina e incluindo novos hábitos à minha vida. Bom, fiz meu curso, conheci algumas pessoas, não saíamos muito, mas tivemos bons amigos para toda hora.

Chegou o momento da partida. Decidimos fazer o Caminho de Santiago antes de voltar para cá, empacotamos nossas coisas, deixamos tudo na casa de amigas e trancamos nosso ap. Saímos pegar o bus para o aeroporto e na primeira esquina… Eis que cai a primeira lágrima. Era difícil explicar, porque voltar para o Brasil era o que eu mais queria durante muito tempo e agora que estava tão próximo, eu já não sabia mais.

Liffey - Depois de um tempo você aprende a dar valor a dias assim

Liffey – Depois de um tempo você aprende a dar valor a dias assim

Depois do Caminho de Santiago, um mês fora, voltamos à Dublin para pegar nossas coisas e enfim voltar pra casa. Dublin já não era mais a mesma pra mim. Lá parecia ser minha casa finalmente e a sensação de voltar para o Brasil já não era a melhor do mundo. No nosso último ‘rolê’ pelo centro, eu comecei a olhar cada detalhe e pensar comigo “você queria tanto voltar, agora deixa de ser tola!” (ou mais ou menos isso).

Depois de poucas semanas de volta, eu sentia uma falta danada de Dublin, daquela chuvinha insistente, céu cinzento, de ficar toda animada só de ver um dia de sol, do nosso ap, de poder fazer praticamente tudo caminhando, do pote de azeitona do mercado, bla, bla,bla. Eu percebi que eu tinha mudado e minhas prioridades também. Claro, contar isso para o Leo não foi muito fácil, afinal a louca que queria voltar, era eu. Contei e percebemos que compartilhávamos do mesmo sentimento.

Ponte Samuel Beckett

Ponte Samuel Beckett

A questão é: morar um tempo fora, mesmo que pouco tempo, muda você e você entende melhor o significado do que é “preferir ser uma metamorfose ambulante”. Hoje, um ano e meio depois do retorno, a sensação de querer tudo de novo continua. Eu já chorei ouvindo musica celta, eu faço inglês com um irlandês (e sou apaixonada pelo sotaque estranho), ouço pelo menos 4 vezes por semana uma rádio de lá e sinto falta de poder andar beirando o Liffey. Porém, hoje tento aproveitar mais o lugar onde estou pois não quero ter a sensação que deixei passar algo aqui.

Morar fora novamente voltou a ser um objetivo. Algumas pessoas, querem dar a volta ao mundo, outras comprar uma casa, outras construir uma carreira sólida. Bom, nós queremos várias coisas, queremos conhecer muitos lugares, mas queremos ter novamente um pouco daquela rotina morando fora. Dizem que para quem volta pra cá parece que nada é suficiente. Talvez seja isso, mas o ponto principal é que uma vez com os pés fora, a cabeça muda e por mais que você se negue a acreditar que mudou, uma hora tudo isso vem à tona. Mas é por uma boa causa, você muda para melhor. A vida para mim hoje é mais simples!

Se você voltou agora (ou há meses como nós) e tem essa sensação, não se preocupe. Fique feliz, isso quer dizer que você está vivo e quer muito mais da vida! Agora é descobrir o que continua te movendo e não desistir. Mudanças amadurecem.

“Eu prefiro ser, essa metamorfose ambulante…”

Há duas quadras de casa - Esse é o lugar que me faz falta!

Há duas quadras de casa – Esse é o lugar que me faz falta!